360 é quantos graus tem o giro que a Terra dá em torno de si própria, até voltar ao ponto de partida pra começar tudo outra vez. É também o título do mais novo longa dirigido por Fernando Meirelles, que abriu na noite de ontem, com pompa e circunstância, o 40º Festival de Cinema de Gramado.
Jamel Debbouze - Algerian Man e Dinara Drukarova - Valentina (divulgação) |
A princípio parece apenas mais um
filme-colagem: estilo em que várias tramas independentes correm paralelas, interconectando-se
em algum momento. Mas à medida que a narrativa segue, novas facetas vão se
revelando. São 9 histórias de personagens a primeira vista totalmente
distintos, de diferentes religiões e nacionalidades. Para além da mera casualidade
dos encontros, um ponto em comum cercado de sutilezas intersecciona a vida
desses personagens. Todos eles são colocados diante de uma encruzilhada, que
chamarei aqui de “tentação”, onde precisam fazer uma escolha: Trair ou ser
fiel? Pular a cerca ou segurar a onda? Render-se ao desejo carnal profano e
momentâneo, ou manter-se firme nos laços sagrados que regem a moral religiosa e
a ética familiar? Enfim: se segurar ou prevaricar? Eis a questão. Cada
personagem lida com essa “tentação” de modo diverso, mas não é difícil
adivinhar que quase todos “caem na tentação” e acabam tendo que arcar com as
consequências de suas escolhas. Todavia, por uma interessante e ousada ironia
dramática, justamente o que personagem de quem se espera os atos de maior “vandalismo
libidinal” – um psicopata especializado em crimes de agressão sexual – é quem
consegue de fato a façanha de domar o imperativo de seu desejo, num momento em
que todos admitem e até torcem para que ele também caia na teia florida da tentação; inclusive nós, meros
espectadores. Um golpe certeiro do roteiro de Peter Morgan.
O elenco esbanja charme.
Meirelles sabe extrair o melhor de cada ator e a atuações são quase sempre
memoráveis. Os principais destaques são: Anthony
Hopkins, que felizmente conseguiu sair da mesmice que vinha imprimindo a
seus últimos papeis; Ben Foster,
cujo mergulho no universo do personagem confere uma densidade inesperada a um
biotipo por si só fascinante e lugar-comum;
e Maria Flor, que surpreende pela desenvoltura com que contracena com
essas feras sem perder a naturalidade e garantindo a emoção à “flor” da pele.
Aquela que o público brasileiro não abre mão .. Maria Flor é a grande (e boa)
surpresa deste elenco e, sem dúvida, 360 representará um divisor de águas em
sua careira.
A trilha sonora funciona
impecavelmente. Cada historinha tem seu tema. Canções e personagens estão tão
sintonizados que em um deles é o próprio ator que compõe e interpreta sua
música tema. Pensaram no Jude Law? Não. Anthony Hannibal Hopkins. Ele mesmo,
compondo e cantando.
E o que dizer da direção do filme? Como era de se esperar,
destila competência, sutileza e conhecimento de causa. Pensando em fazer um
filme sobre as emoções humanas e partindo da premissa poética de que “só o que
se esconde pode ser revelado”, o diretor opta por sugerir mais que explicitar,
“deixando um espaço para que o espectador complete em sua cabeça o que não vê
na tela”, nas palavras do próprio Meirelles. Faz uso de movimentos de câmera
não sincronizados com o movimento dos atores, e prioriza focos e enquadramentos
pouco usuais, geralmente deixando a ação real do filme não tão centralizada,
nem tão focada .. enfim, não tão explícita
quanto estamos acostumados a ver no cinema contemporâneo. A fotografia de Adriano Goldman acompanha
com maestria as concepções da direção, usa e abusa da luz natural, e não é
casual a captura das imagens em 16 milímetros, que na telona resulta numa
textura diferente da habitual, um pouco mais granulada, pondo “uma espécie de
véu entre o objeto fotografado e quem está assistindo”. As opções acertadas de
direção e fotografia conferem grande eficácia estética ao produto final,
contribuindo decisivamente para que o filme alcance o almejado clima de drama psicológico e um charme atemporal
.. imprescindíveis !!
Fernando Meirelles (divulgação)
O filme foi montado na O2 que também realizou os efeitos. A montagem de Daniel Rezende é tradicional e competente. Usa clichês propriedade, como é o caso da Tela Divida, que veste o filme como uma luva. Fica ao final uma sensação que algumas histórias saíram mal terminadas. Terá faltado tempo nos 110 minutos para todas as explicações? Ou foi mais um “de propósito” conceitual, pra que o espectador conclua essas histórias por si mesmo. Não sei. Veja o filme e conclua por si mesmo !!
Até loguinho
.DarioPR
.. E
LIVRAI-NOS DO MAL ?? AMÉM ..
Um filme da historia de varias pessoas, e que retrata um pouco a vida real, numa forma particular! Cópia de outros filmes do genero, mas mesmo assim gostei... Anthony Hoppins é um dos meus actores preferidos...
ResponderExcluirPois é, Tio Anthony dá um show a parte no filme ..
ResponderExcluirPra mim a melhor cena dele é o monólogo na reunião do AA.
Aliás, quase todo o texto da cena foi escrito também por ele.
Imperdível !!
Abç
.DarioPR