O Livro de Julio Claudio da Silva aborda a trajetória e memórias da atriz Ruth de Souza que suas conquistas abriram as portas para que outros artistas negros conquistassem seu espaço no cenário artístico nacional.
Hoje com 94 anos, a carioca Ruth Pinto de Souza iniciou a
carreira nos palcos. E foi na Cia Experimental do Negro que transformou o sonho
de menina de ser atriz em realidade. Em 1945 foi a primeira atriz negra a se
apresentar no palco nobre do Theatro Municipal do Rio de janeiro, com o espetáculo
O Imperador Jones. Depois ganhou uma bolsa e passou um ano estudando e se
aprimorando na Universidade de Harvard e
na Academia Nacional de Teatro Americano, nos Estados Unidos. Daí para a
frente, não parou mais: foram mais de 40 novelas, 33 filmes e dezenas de peças.
Foi a primeira protagonista negra da Tv Brasileira, em A Cabana do Pai Tomás
(1969). Também foi a primeira brasileira a concorrer ao Leão de Ouro, no
Festival de Veneza, por sua atuação no filme Sinhá Moça (1953).
Foi justamente esse pioneirismo, no aspecto da luta contra o
racismo, que chamou a atenção do professor Julio Cláudio, que fez deste aspecto
da trajetória de Ruth de Souza, o ponto principal de sua tese de
doutorado. “Dentro do propósito das
universidades, de identificar a contribuição do negro na formação cultural do
Brasil, e dentro do contexto da cultura do racismo , o livro enfoca esse teatro
que surgiu para denunciar o racismo e abrir espaço para o artista negro. E Ruth
de Souza tem importância ímpar nessa história”, conta o professor.
O livro não é uma biografia. Mantém o foco entre os anos de
1945 a 1952, período em que a atriz ingressa no Teatro Experimental do Negro
até seu retorno dos EUA. Em sua primeira parte, a obra aborda a memória pública
Ruth de Souza, analisando entrevistas que a atriz concedeu , inclusive para o
MIS (Museu da Imagem e do Som) e para a produção da biografia Ruth de Souza: A
Estrela Negra . Em sua segunda parte, aborda o acervo que a própria Ruth de
Souza colecionou ao longo da carreira. São recortes com reportagens, críticas
ao grupo em que atuou, matérias a respeito das produções das quais participou, prêmios, etc. “É um
registro dessa memória de uma pessoa púbica do ponto de vista do cenário
cultural e também evidencia a forma com a qual a própria Ruth foi construindo a sua memória, o que
chamamos a ‘construção de si’”, diz Julio Claudio.
O autor de "Uma Estrela Negra no Teatro Brasileiro: Relações
Raciais e de Gênero nas Memórias de Ruth de Souza" destaca ainda que, além do
mérito profissional nas conquistas de Ruth de Souza, não há como dissociar toda
a história da artista das questões raciais e de gênero: uma grande atriz negra
e mulher. Componentes que tornam ainda
mais especial a trajetória dessa grande dama da dramaturgia nacional.

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