O Livro de Julio Claudio da Silva aborda a trajetória e memórias da atriz Ruth de Souza que suas conquistas abriram as portas para que outros artistas negros conquistassem seu espaço no cenário artístico nacional.
Com mais de 70 anos de carreira, Ruth de Souza é um dos
ícones da dramaturgia nacional. Mais do que isso: a trajetória marcante da
atriz abriu portas para os artistas negros no cenário artístico brasileiro. E
um pouco dessa história pode ser conferida no livro Uma Estrela Negra no Teatro
Brasileiro: Relações Raciais e de Gênero nas Memórias de Ruth de Souza, de
autoria de Julio Claudio da Silva, Doutor em História Social e professor
adjunto da Universidade do Estado do Amazonas. A obra, publicada pela UEA
Edições, será lançada na Livraria Cultura – Cine Vitória, no Rio de Janeiro, no
dia 25 de setembro.
Hoje com 94 anos, a carioca Ruth Pinto de Souza iniciou a
carreira nos palcos. E foi na Cia Experimental do Negro que transformou o sonho
de menina de ser atriz em realidade. Em 1945 foi a primeira atriz negra a se
apresentar no palco nobre do Theatro Municipal do Rio de janeiro, com o espetáculo
O Imperador Jones. Depois ganhou uma bolsa e passou um ano estudando e se
aprimorando na Universidade de Harvard e
na Academia Nacional de Teatro Americano, nos Estados Unidos. Daí para a
frente, não parou mais: foram mais de 40 novelas, 33 filmes e dezenas de peças.
Foi a primeira protagonista negra da Tv Brasileira, em A Cabana do Pai Tomás
(1969). Também foi a primeira brasileira a concorrer ao Leão de Ouro, no
Festival de Veneza, por sua atuação no filme Sinhá Moça (1953).
Foi justamente esse pioneirismo, no aspecto da luta contra o
racismo, que chamou a atenção do professor Julio Cláudio, que fez deste aspecto
da trajetória de Ruth de Souza, o ponto principal de sua tese de
doutorado. “Dentro do propósito das
universidades, de identificar a contribuição do negro na formação cultural do
Brasil, e dentro do contexto da cultura do racismo , o livro enfoca esse teatro
que surgiu para denunciar o racismo e abrir espaço para o artista negro. E Ruth
de Souza tem importância ímpar nessa história”, conta o professor.
O livro não é uma biografia. Mantém o foco entre os anos de
1945 a 1952, período em que a atriz ingressa no Teatro Experimental do Negro
até seu retorno dos EUA. Em sua primeira parte, a obra aborda a memória pública
Ruth de Souza, analisando entrevistas que a atriz concedeu , inclusive para o
MIS (Museu da Imagem e do Som) e para a produção da biografia Ruth de Souza: A
Estrela Negra . Em sua segunda parte, aborda o acervo que a própria Ruth de
Souza colecionou ao longo da carreira. São recortes com reportagens, críticas
ao grupo em que atuou, matérias a respeito das produções das quais participou, prêmios, etc. “É um
registro dessa memória de uma pessoa púbica do ponto de vista do cenário
cultural e também evidencia a forma com a qual a própria Ruth foi construindo a sua memória, o que
chamamos a ‘construção de si’”, diz Julio Claudio.
O autor de "Uma Estrela Negra no Teatro Brasileiro: Relações
Raciais e de Gênero nas Memórias de Ruth de Souza" destaca ainda que, além do
mérito profissional nas conquistas de Ruth de Souza, não há como dissociar toda
a história da artista das questões raciais e de gênero: uma grande atriz negra
e mulher. Componentes que tornam ainda
mais especial a trajetória dessa grande dama da dramaturgia nacional.
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