JASON BOURNE

JASON BOURNE

JULIETA

JULIETA

sábado, 1 de setembro de 2012

.. VENTOS DO MAR SOPRAM POR TODO O PAÍS – TUDO QUE EU AMO ..

Cartaz de TUDO QUE EU AMO

É cada vez mais comum ver filmes produzidos há 2-3 anos ou mais estreando na telona. Felizmente! Um bom filme deve sempre entrar em cartaz. Antes tarde .. É o caso do drama-cômico-político-musical Tudo Que Eu Amo / All That I Love, de 2009, que essa semana chegou ao circuito paulistano sem muito estardalhaço: em apenas uma sala no CineSesc da Augusta. Tenho uma incontrolável atração por esses filmes “menores”, garimpados em festivais .. e se for lançado em apenas uma sala então .. me apaixono! Esse filme em especial me chamou ainda mais atenção por ser polonês, orçamento modesto, pouco comercial, diretor novo e sem estrelas no elenco .. Fui correndo conferir.

Cena de TUDO QUE EU AMO (foto: divulgação)

Com título original Wszystko, co kocham (como será que se pronuncia isso, deus meu?), a obra fez uma modesta mas significativa passagem por festivais. Já em 2009 ganhou os prêmios de melhor filme pelo júri popular e melhor desenho de produção no Polish Film Festival. Em 2010 foi um dos indicados a melhor filme no Sundance Film Festival, a grande vitrine do cinema independente no Ocidente. E em 2011 recebeu nove indicações no Polish Film Awards, faturando três delas (melhor filme pelo júri popular, melhor roteiro e ator revelação para Mateusz Kosciukiewicz). Roteiro e direção são de Jacek Borcuch, sem trabalhos de peso até agora, e mais conhecido por aqui como ator no clássico polonês A Dívida (1999) de Krzysztof Krauze.

Vamos à história: O ano é 1981. O lugar chama-se Hel e é uma pequena cidade costeira no norte da Polônia. Fica numa península, quase uma ilha, cravada no Mar Báltico. Há rumores de que uma mudança política radical está prestes a acontecer no país. A população está insatisfeita com o regime comunista e o movimento Solidariedade, liderado pelo sindicalista Lech Walesa, cada dia fica mais forte. A tensão crescente leva o governo polonês a impor a lei marcial declarando Estado de Sítio.

Cena de TUDO QUE EU AMO (foto: divulgação)

Janek (Mateusz Kosciukiewicz), 18 anos, filho de um capitão da marinha, mantém uma banda de punk-rock com o irmão e dois amigos. Eles ensaiam num vagão abandonado e pretendem participar de um festival nacional. Janek não é propriamente um jovem alienado, mas as questões políticas e sociais de seu país não são o foco de seus interesses. Está mais voltado às suas questões pessoais, sua música, sua família, sua namorada .. enfim, às coisas que ele ama. Até que a política irrompe em sua vida, atrapalhando seus melhores planos de felicidade e levando-o a um inevitável posicionamento.

Outros dois personagens vem compor o triângulo central da ação: o rebelde Kazik (Jakub Gierszal) – guitarrista da banda, amigo, confidente e mentor de Janek – e a bela Basia (Olga Frycz), colega de escola por quem Janek se apaixona. Eles se amam, compartem descobertas sexuais e, claro, discutem política. Kazik é punk-anarquista e combate violentamente os militares. Já Basia, mais tranquila, é filha de um ativista do Solidariedade que acaba preso pelos militares. Injuriada, ela põe a culpa no pai de Janek e rompe o namoro .. 


Mateusz Kosciukiewicz e Olga Frycz em cena (foto: divulgação)
E a história segue, mesclando sem pudor política dos anos oitenta a conflitos sexuais adolescentes. Pode até parecer o rock do polaco doido, mas o roteiro autobiográfico de Jacek Borcuch é tão cuidadosamente desenhado que tudo acaba se encaixando num volume muito bem arrumado e consistente. Como o país que se rebela, Janek trava sua revolução pessoal, impõe-se como o vocalista da banda e se transforma na voz da rebeldia, atualizando todos os nossos sonhos juvenis de paz, amor, música e liberdade. É o protagonista exemplar: segura a emoção à flor da pele nos 95 minutos do filme. Tem uma sensibilidade hipertrofiada e parece que vai ter um surto a qualquer momento. Terá?!


O elenco dá show. Mateusz Kosciukiewicz é um ator excepcional. A câmera o persegue com crueza, revelando suas pernas arqueadas, seu dente cavalado, sua bolsa escrotal. Ele defende seu personagem com caras, caretas, unhas, dentes e coração. Tem a qualidade inata de um astro: é impossível esquecê-lo. Quem vir o filme concordará comigo. Além do excelente trio de protagonistas, merece destaque o trabalho de Andrzej Chyra (A Dívida) como pai de Janek. 


Jacek Borcuch e Andrzej Chyra em foto de A Dívida (1999)

A direção de Jacek Borcuch é sensível e virtuosa, com várias cenas trabalhadas artesanalmente, uma melhor que a outra. As locações externas são inúmeras, todas muito bem aproveitadas, principalmente as cenas marinhas. Aliás, o mar é mais um protagonista do filme .. A fotografia, quase sempre em zoom, põe os personagens a um palmo do nosso nariz, nos aproximando da emoção deles. A montagem, ágil e sem medo do corte, demarca o ritmo e não deixa o espectador desgrudar. A impecável trilha sonora vai do rock ao clássico com desenvoltura e é assinada por Daniel Bloom, irmão do diretor. A direção de arte é delicada e nos transporta prazerosamente aos anos oitenta. Quem foi adolescente na época - como eu - se delicia.

Wszystko, co kocham está sendo distribuído nacionalmente pela Lume Filmes, uma distribuidora de São Luiz do Maranhão (pasmem!) que, segundo a Filme B, pertence a um heróico brasileiro chamado Frederico Machado. [Frederico, se em algum momento você ler essa crítica, por favor, mate nossa curiosidade e nos conte como a Polônia foi parar no Maranhão.]
Mateusz Kosciukiewicz e Jakub Gierszal em cena (foto: divulgação)

A classificação etária no Brasil é 16 anos - pelas fortes cenas de sexo, nudez e violência juvenil. Mas não se enganem: All That I Love não é um filme sobre adolescentes. É um filme sobre o amor .. esse sentimento atemporal, universal e sem idade .. amor a família, amor pátria, ao mar, a vida .. amor-próprio .. enfim, um filme sobre tudo que ele ama, sobre tudo que você ama, e sobre Tudo Que Eu Amo.

Não percam !!
.DarioPR


tudo que eu amo - trailler no youtube

outras críticas minhas no Cinema na Veia

Um comentário:

  1. Hi, it's nice that the movies from my country also appear in South America. I am very glad that "Wszystko, co kocham" (I suppose it's hard to pronounce the title of the original;) caused your interest, and more importantly - positive reactions. I love this movie, I've seen it many times. Full of energy, rebellion and good music. It gives a sense of freedom. Surely I can repeat your words - Não percam! :)

    I do not know if you mentioned in your review, but I'm curious - "Tudo Que Eu Amo" will be shown only at film festival, or will also appear in cinemas all of Brazil?

    I wish you many more positive experiences with the next Polish films.

    Saudações da Polónia :)

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