NEIGHBOURING SOUNDS FROM PERNAMBUCO
São tiros mortais ou fogos de artifício? O que se passa
quando o crítico de cinema resolve mudar de lugar e fazer o filme? Essa “dança
das cadeiras” acontece no deslumbrante O
SOM AO REDOR ( Neighbouring Sounds
no título internacional ), primeiro e ambicioso longa de ficção do crítico e
cineasta pernambucano Kleber Mendonça
Filho. Ele já tinha feito seis curtas e um longa documental, Crítico (de 2007), que registra sua
experiência jornalística de oito anos em cobertura cinematográfica.
Depois de angariar elogios e prêmios em diversos festivais
internacionais de cinema ( Rotterdam, Locarno, Wroclaw, Sydney, Cannes .. ), o
filme teve sua estreia brasileira ontem no Festival de Gramado. Numa ironia do
destino como só o cinema sabe criar, quando o filme estava quase acabando, um
problema técnico fez emudecer o audio
no Palácio dos Festivais, transformando O
SOM AO REDOR num filme sem som. Foi muito frustrante, pois a história vinha num crescente de suspense e caminhava para
um desfecho final que esclareceria toda a trama. No entanto, o que poderia ter prejudicado
a avaliação do filme acabou tendo um efeito inverso já que, para compensar a
falha, a programação do festival reprisou o filme hoje duas vezes, com entrada
gratuita. Quem não tinha visto ontem, veio conferir. Quem tinha visto ontem,
voltou pra ver o esperado final e acabou vendo novamente o filme. Quem já tinha
visto duas vezes, não resistiu e quis ver a terceira .. Acontece que O SOM AO REDOR é dessa espécie colossal
de filmes que crescem a cada novo olhar.
W.J Solha, Irandhir Santos, Lula Terra, Kleber Mendonça Filho, Emilie Lesclaux, Maeve Jinkings e Albert Tenório. Foto Itamar Aguiar |
Realizado em 2010 pela Produtora Cinemascópio, de
Recife, O SOM AO REDOR custou exatos 1 milhão e 860 mil reais – inclusive a pós-produção. Em
2008, com o filme ainda em projeto, Kleber já tinha ganho o prêmio de
desenvolvimento de roteiro do Festival de Rotterdam, o Fundo Hubert Bals, que
anualmente distribui 1,2 milhão de euros a diretores interessados em realizar
filmes autorais. O roteiro também foi selecionado no Brasil pelo edital da
Petrobrás e do Funcultura.
O filme retrata uma vizinhança de classe média no Recife que
tem sua rotina mudada por seguranças particulares que chegam oferecendo aos
moradores serviço de proteção. As cenas iniciais não me causaram boa impressão.
A história me pareceu pouco consistente. As atuações me pareceram frágeis. A
captação em película me pareceu velha, e tive a impressão que a imagem estava
meio .. fora de foco. Pois bem, nesse filme, nada do que parece, é. Tudo
caminha num crescendo ao longo das mais de duas horas de exibição. Os atores vão
cena-a-cena vestindo seus personagens com convicção e realismo. O roteiro vai
se transmutando numa bem alinhavada teia que mescla com presteza suspense
policial a pequenos dramas familiares, com momentos precisos de lirismo,
sensualidade e poesia. A direção vai se revelando de extremo profissionalismo,
com absoluto domínio de linguagem cinematográfica e movimentação de câmera rara
e criativa.
Grande parte das cenas reproduz uma imagem que, em tese, estaria sendo
captada por câmeras de segurança. Aquelas que estão em quase todos os lugares,
que a gente esquece que existem, e que por isso mesmo captam uma realidade
outra: a intimidade e o desprendimento das pessoas (no caso aqui: personagens)
quando não se dão conta que estão sendo filmados. Esse ponto-de-vista
conceitual, ao desnudar-se, traz uma perspectiva inteiramente nova ao filme,
que se re-significa magicamente aos olhos do espectador. Outro ponto alto do filme
é a edição sonora, que recheia momentos do mais tóxico silêncio com
uma bizarra sinfonia de barulhos urbanos, uma verdadeira cacofonia de sons, alguns
imaginários, outros reais, que vão, ruído-a-ruído, compondo um universo
cinematográfico único, de paranóias e perigos, tanto imaginários quanto reais.
Na atuação, merece atenção especial o trabalho de Maeve Jinkings (Falsa Loura, Era uma vez Verônica), Irandhir Santos (Tropa de Elite 2, Febre do Rato) e do escritor-poeta-ator W.J. Solha. As filmagens foram feitas em seis semanas e quatro dias, entre julho e agosto de 2010. A fotografia é de Pedro Sotero e Fabricio Tadeu; a direção de arte, de Juliano Dornelles; a montagem, de Kleber e João Maria, levou um ano e dois meses para ficar pronta. A trilha sonora é do DJ Dolores e o desenho de som é assinada também por Kleber e Pablo Lamar. O corte final tem 131 minutos.
Na atuação, merece atenção especial o trabalho de Maeve Jinkings (Falsa Loura, Era uma vez Verônica), Irandhir Santos (Tropa de Elite 2, Febre do Rato) e do escritor-poeta-ator W.J. Solha. As filmagens foram feitas em seis semanas e quatro dias, entre julho e agosto de 2010. A fotografia é de Pedro Sotero e Fabricio Tadeu; a direção de arte, de Juliano Dornelles; a montagem, de Kleber e João Maria, levou um ano e dois meses para ficar pronta. A trilha sonora é do DJ Dolores e o desenho de som é assinada também por Kleber e Pablo Lamar. O corte final tem 131 minutos.
Ainda sem data de estreia prevista, O SOM AO REDOR será distribuído no
Brasil pela Vitrine Filmes. É um filme impar e atemporal. Quem viver, verá.
Até logo
.DarioPR
www.cineenlavena.blogspot.com.br
Prêmios:
- Prêmio de Melhor Filme no Festival CPH PIX em Copenhague, Dinamarca.
- Prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema - FIPRESCI - no Festival Internacional de Rotterdam, Holanda.
- Prêmio da Crítica no Festival New Horizons, em Wroclaw, Polônia.
- Não foi selecionado pelo Festival de Brasília ano passado.
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